PIEDADE MALICIOSA E INIQUIDADE ESPIRITUAL


Qualquer leitura superficial dos evangelhos consegue flagrar sem nenhuma dificuldade que, durante o seu ministério, o Senhor Jesus dirigia as críticas mais contundentes aos fariseus e sacerdotes, a liderança teológica e devocional das instituições judaicas.

O discurso de Mateus 23 repete, como um estribilho recorrente, a expressão: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas!”.

São chamados de guias cegos.

São aqueles que fecham o Reino dos céus: não entram e nem deixam entrar.

São aqueles que são chamados de mestres, pais e líderes, sem ser qualquer um dos três.

São aqueles que fazem longas orações para devorar as casas das viúvas.

Para eles, o ouro vale mais que o santuário e as ofertas representam mais do que o altar.

Para eles, o dízimo é mais precioso que a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

São aqueles que coam um mosquito e engolem um camelo.

São aqueles que limpam o exterior da louça enquanto deixam a sujeira permanecer por dentro.

São aqueles que se assemelham a sepulcros ornamentados por fora enquanto, internamente, escondem carniças fétidas e podridões.

São serpentes. São raça de víboras.

A parábola de Lucas 13.6-9, sobre a figueira estéril, é uma narrativa que denuncia a liderança religiosa judaica como uma árvore que já não dá fruto.

As curas realizadas nos sábados, como contadas pelo Evangelho de Marcos, e o discurso de Jesus contra a tradição dos anciãos, em Marcos 7 e Mateus 15, contêm firmes exortações aos que, conforme as palavras do próprio Mestre, cantam louvores com os lábios, mas o coração permanece longe de Deus.

O pior tipo de religião é o que dá espaço para a piedade impiedosa, a fé sem amor e a espiritualidade carnal. É o que leva alguém a erguer os braços em oração fervorosa e a sequer se comover com o sofrimento do próximo. É o que traz ofertas ao altar e guarda rancor amargo no coração. É o que recita vários salmos com a voz embargada e ofende o irmão com insultos indecorosos.

Desse tipo de religião ninguém precisa. Mas é o que mais se acha nas esquinas e nas praças.

Sem a autenticidade dos ensinos do Evangelho, qualquer igreja vira clube social, qualquer templo torna-se um mero edifício de tijolos e cimento, qualquer púlpito não passa de palanque, qualquer congregação é apenas um auditório, qualquer grupo musical se transforma em fogueira de vaidades, e por aí vai.

O que são os evangélicos hoje?

Em grande parte, casca sem miolo, moldura sem quadro, estrutura sem vida.

O que são os pregadores hoje?

Em grande parte, oradores eloquentes que gesticulam, gritam, encenam e manipulam com o único propósito de satisfazer seus interesses materialistas e financeiros.

O que são as igrejas hoje?

Em grande parte, casas comerciais que vendem favores divinos a gente que só se interessa mesmo é pelo bem-estar físico e econômico. Ou seja, pequenos interesseiros que, facilmente, se tornam vítimas dos grandes interesseiros.

E, no meio disso tudo, que é o Evangelho?
BLOG DO PASTOR NOVAES: PIEDADE MALICIOSA E INIQUIDADE ESPIRITUAL

MANIFESTO DOS BATISTAS BRASILEIROS ALUSIVO AO ACORDO BRASIL-VATICANO

Manifesto dos batistas brasileiros alusivo ao acordo Brasil-Vaticano

Qui, 10 de Dezembro de 2009 15:19

A Convenção Batista Brasileira (CBB) vem tornar público o seu posicionamento oficial sobre o Acordo Internacional firmado, em novembro de 2008, entre o Governo brasileiro e a Santa Sé.

A Declaração Doutrinária da CBB postula que Igreja e Estado devem estar separados por serem diferentes em sua natureza, objetivos e funções. É dever do Estado garantir o pleno gozo e exercício da liberdade religiosa, sem favorecimento a qualquer grupo ou credo. O Estado deve ser leigo e a Igreja livre. Reconhecendo que o governo do Estado é de ordenação divina para o bem-estar dos cidadãos e a ordem justa da sociedade, é dever dos crentes orar pelas autoridades, bem como respeitar e obedecer às leis e honrar os poderes constituídos, exceto naquilo que se oponha à vontade e à lei de Deus.

O Estado deve à Igreja a proteção da lei e a liberdade plena, no exercício do seu ministério espiritual. A Igreja deve ao Estado o reforço moral e espiritual para a lei e a ordem, bem como a proclamação clara das verdades que fundamentam a justiça e a paz. 

Por isso, considerando...

1. Que a partir de quando um grupo de discípulos de Jesus Cristo foi denominado batista, os quais vêm se destacando ao longo dos séculos pela defesa intransigente da liberdade de pensamento, da ampla liberdade de crença e consciência, e, consequentemente, da separação entre Igreja e Estado;
2. Que este histórico posicionamento democrático propagado pelos batistas tem influenciado positivamente o mundo ocidental, de tal forma que vários Estados e nações têm incluído estes princípios em seus documentos constitutivos, que são as constituições nacionais, inclusive em convenções internacionais;
3. Que o referido Acordo Internacional, à luz da Constituição Federal, em seu artigo art. 84, inciso VIII, institui efetivamente um tratamento jurídico diferenciado entre os grupos religiosos na nação brasileira, uma vez que, em nosso sistema jurídico todas as religiões estão igualadas e são sujeitas a regulamentos, tanto por normas constitucionais, como por leis ordinárias vigentes, sendo ao Estado proibido intervir em questões religiosas, espirituais ou de fé, mas devendo normatizar e mesmo fiscalizar a atuação das igrejas e organizações religiosas, nas questões civis, associativas, trabalhistas, tributárias, criminais, administrativas, comerciais, financeiras etc, enquanto agentes atuantes na sociedade civil organizada.
4. Que diversas instituições representativas da sociedade brasileira, tais como a SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da  Ciência - e,  especialmente, a AMB - Associação de Magistrados Brasileiros -, tornaram públicos posicionamentos contrários ao Acordo Brasil-Vaticano, como divulgado: “A AMB ressalta que o modelo constitucional vigente instituiu a laicidade do Estado brasileiro, garantindo a liberdade religiosa a toda cidadania. O acolhimento do Acordo pelo Congresso Nacional implicará em grave retrocesso ao exercício das liberdades e à efetividade da pluralidade enquanto princípio fundamental do Estado. Rogamos que as autoridades legislativas atuem nesta questão com rigorosa conduta constitucional”. No mesmo sentido, contra a aprovação da “Concordata Católica”, pronunciaram-se diversas outras organizações religiosas e evangélicas representativas de igrejas e instituições, bem como instituições defensoras da manutenção do Estado laico em nosso país, sendo ignoradas pelos representantes do Legislativo brasileiro.

Pelo que, sustentamos...

1. Que nossa ênfase restringe-se ao foco jurídico-institucional, pois os demais grupos religiosos não possuem instituições com "status" de Estado internacional que os representem, não havendo, assim, possibilidade legal destes pactuarem acordos semelhantes, sendo que também por isso ele é inconstitucional, uma vez que rompe com o princípio da isonomia estabelecido na Constituição Federal.
2. Que este Acordo Internacional se apresenta temerário, na medida em que esta “Concordata Católica” trará benefícios concretos para o clero romano, os quais não são extensivos aos demais grupos religiosos do país.
3. Que o princípio da separação entre Igreja e Estado, vigente em nosso sistema constitucional desde 1891, mantido em todas as constituições seguintes, e de forma contundente na Carta Magna de 1988, fundamenta o Estado Laico, ou seja, o Estado sem religião oficial.
4. Que, consequentemente, a conquista deste Estado sem religião oficial, em nível constitucional, apesar de todas as suas imperfeições, especialmente na inexplicável, sob o prisma da laicidade, existência dos diversos feriados religiosos, e ainda, na tolerância, que fere o princípio da separação entre Igreja e Estado, da exibição de símbolos místicos em prédios e repartições públicas, é um marco legal que não deve ser flexibilizado de forma alguma, exatamente porque ele é a garantia jurídica da convivência pacífica entre os religiosos brasileiros de todos os matizes de fé.

Por isso, destacamos alguns dos pontos conflitantes do conteúdo do Acordo Brasil-Vaticano...

1. O artigo 3º reafirma a personalidade jurídica da Igreja Católica e de suas instituições, como a CNBB, dioceses, paróquias, prelazias territoriais ou pessoais, institutos religiosos, etc, estando expresso no seu parágrafo 2º que estas deverão obedecer a legislação brasileira para efeitos de criação, modificação ou extinção, reconhecendo a submissão destas ao cumprimento dos requisitos contidos no Código Civil, com relação às Igrejas e Organizações Religiosas. No artigo 6º é estabelecido que o Estado passe a colaborar na preservação do patrimônio cultural, histórico e artístico, e para tanto é claro despenderá de verbas públicas. No artigo 11, que regulamenta o ensino religioso, constituindo disciplina nos horários normais do ensino fundamental das escolas públicas de ensino fundamental. No artigo 12, que prevê que as sentenças dos tribunais eclesiásticos tenham validade jurídica em matéria matrimonial, sendo estas equiparadas, para todos os efeitos legais, às exaradas pelo Poder Judiciário pátrio.
2. Destacamos o artigo 14, o qual fixa que nos Planos Diretores das Cidades deverão ser reservados espaços destinados a fins religiosos ao culto católico, bem como o artigo 15, que trata da imunidade tributária das pessoas jurídicas eclesiásticas, sendo esta extensão do título de filantropia concedido só pelo fato de ser uma entidade católica apostólica ligada ao clero romano. No caso das demais confissões religiosas, esta permanece restrita tão somente as Igrejas, e todas as demais instituições, religiosas ou não, permanecerão necessitando enfrentar um salutar processo administrativo de comprovação de sua efetividade social, para que receba o beneplácito fiscal.
3. Ainda, no artigo 16,  apresenta-se uma das grandes inovações que procuram "blindar" a Igreja Católica de Ações no Judiciário Trabalhista, pretendendo que os princípios do direito do trabalho, os quais norteiam as relações laborais, sejam ignorados no que tange aos padres e suas dioceses, bem como a religiosos e religiosas que labutam em seus respectivos institutos, aplicando-se lhes a Lei do Voluntariado, à qual não contempla a atividade religiosa.
4. Que no artigo 20 do Acordo é reiterado de forma inconstitucional um tratado internacional firmado em 1989, entre a Santa Sé e o Brasil, com relação as Forças Armadas, na qual os capelães evangélicos são chefiados por um ordinariado católico, estabelecendo um privilégio no comando da assistência religiosa nas Forças Armadas, o qual também fere o princípio da isonomia constitucional, já dentro da vigência da Carta Magna de 1988, e que até o presente momento não foi ratificado pelo Congresso Nacional, segundo propalado recentemente por parlamentares.

Desta forma, conclamamos aos Poderes da República Federativa do Brasil ...

Quer seja o Poder Executivo, na pessoa do  Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que encaminhe ao Congresso Nacional documento lastreado na Constituição Federal adotando medida retificadora da mensagem alusiva ao Acordo Brasil-Vaticano, para a manutenção de um país que não tem religião oficial e, por isso, não intervém em questões de fé, espiritualidade e religiosidade do povo brasileiro.

Quer seja o Poder Legislativo, através de suas casas legislativas, sobretudo o Senado Federal, para que não aprove a denominada Lei Geral de Religiões, à qual estende aos demais grupos religiosos os privilégios legais concedidos às Igrejas e Organizações Católicas Romanas. Que o Congresso Nacional, composto de parlamentares que representam a totalidade do povo brasileiro, os quais defendem diversas expressões de fé, inclusive ateus e agnósticos, encontre um efetivo instrumento legislativo para que não seja homologado o Acordo Brasil-Vaticano diante dos iminentes e concretos prejuízos que ferem o princípio da convivência pacífica de brasileiros de todos os matizes de fé, na construção de uma comunidade que tem por fundamento a dignidade da pessoa humana.

Quer seja o Poder Judiciário, composto de Juízes, Desembargadores e Ministros dos Tribunais Superiores, especialmente o Supremo Tribunal Federal, o qual, em última instância jurídica, é quem vai se manifestar, numa eventual interposição de uma ADI - Ação Declaratória de Inconstitucionalidade - em face do Acordo Brasil-Vaticano, como único órgão que poderá, afinal, manter o princípio da separação constitucional entre Igreja e Estado, resguardando a laicidade do Estado brasileiro conquistado na Constituição Republicana de 1891, e mantido na Carta Política de 1988, que veda de forma objetiva, à luz do art. 19, inciso I, da CF/88, a aliança do Estado brasileiro e uma Igreja ou representante de uma religião, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, fruto do Estado Democrático de Direito, graças a Deus, vigente em nosso país.

Por fim, rogamos a Deus, por sua graça e misericórdia, conceda aos governantes brasileiros, em todos os níveis de atuação institucional, e em todas as esferas de poder, que através da atuação do Espírito Santo possam ser constrangidos em seus corações, na medida em que assevera a Bíblia Sagrada que devemos rogar aos Céus pelas autoridades constituídas, “[...] antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças [...] por todos que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada, em toda piedade e honestidade. Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo, Jesus [...]” (1 Timóteo 2.1-5).

Pr. Dr. Josué Mello Salgado                     Pr. Dr. Sócrates Oliveira de Souza
Presidente                                                Diretor Executivo

Portal Batista - Manifesto dos batistas brasileiros alusivo ao acordo Brasil-Vaticano
Fonte: Convenção Batista Brasileira - www.batistas.com

O APERFEIÇOAMENTO DOS SANTOS NA OBRA DA EVANGELIZAÇÃO



A 1.ª seção de Efésios 4.12 diz que os ministérios específicos existem “para o aperfeiçoamento dos santos”; o que nos mostra um certo trabalho que devemos realizar com eles.

A palavra “aperfeiçoamento”, do grego katartismós, significa algo funcional, algo que se deve colocar em ordem. Por isso, a melhor versão seria: “com vistas ao reto ordenamento dos santos”.

Vejamos esta palavra no Novo Testamento, na versão Revista e Atualizada, como ela foi traduzida para o português:

Mateus 4.21: “consertando”;
Mateus 21.16: “perfeito”;
Lucas 6.40: “instruído”
Romanos 9.22: “preparados”;
1 Coríntios 1.10: “inteiramente”;
2 Coríntios 13.11: “aperfeiçoai-vos”;
Gálatas 6.1: “corrigi-o”;
1 Tessalonicenses 3.10: “reparar”;
Hebreus 10.5: “formaste”;
Hebreus 11.3: “formado”;
Hebreus 13.21: “aperfeiçoe”;
1 Pedro 5.10: “aperfeiçoar”.

Vejamos algumas versões de Efésios 4.12, sua 1.ª seção:

Atualizada: “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos”

Corrigida: “querendo o aperfeiçoamento dos santos”

Jerusalém: “para aperfeiçoar os santos”

Versão literal por Moysés C. Moraes: “para o reto ordenamento dos santos...”.

Este trabalho com os santos visa alcançar a 2.ª seção de Efésios 4.12: “para o desempenho do seu serviço”. Mas serviço de quem? Dos líderes? Dos santos? A pergunta que fazemos da 2.ª seção está respondida na 1.ª seção. A conclusão é clara: é o serviço dos santos, de cada membro do corpo de Cristo, de todo discípulo.

Por enquanto podemos resumir:

O serviço dos santos é multiplicar a vida de Cristo, seja pela pregação do Evangelho do Reino, seja pelo discipulado de vidas.

Este serviço dos santos é para ser desempenhado, conforme a versão Atualizada. Porém, esta palavra, do grego, ergon, significa trabalho, obra, ação, ato, ocupação, empreendimento. Concluímos que o serviço dos santos é um trabalho mais para se realizar do que apenas para ser conhecido. Deve ser um verdadeiro trabalho, uma obra a se realizar, uma ação a desempenhar. Este trabalho deve ser a maior ocupação e empreendimento da nossa vida.

Agora podemos responder por que Deus colocou líderes na Igreja; qual é seu trabalho básico:

A função básica da liderança da Igreja é ordenar os santos para que desempenhem seu serviço e sejam edificados.

Com isto queremos afirmar os seguintes princípios:

OS LÍDERES NÃO EXISTEM PARA FAZER O SERVIÇO NO LUGAR DOS SANTOS, MAS EXISTEM PARA ORDENAR CADA SANTO A DESEMPENHAR SEU SERVIÇO.

LÍDER É AQUELE QUE TEM CAPACIDADE DE DEUS PARA LEVAR CADA SANTO A DESEMPENHAR SEU SERVIÇO.

O LÍDER NÃO DEVE SER LÍDER PARA FAZER A OBRA, MAS ELE É LÍDER PORQUE JÄ FAZ A OBRA.

Normalmente quem faz qualquer tipo de obra é aquele que tem liderança, ou seja, um pastor . É ele quem ora, prega, batiza, ensina, etc.; os demais irmãos só assistem. E há grupos em que, quando um pastor sai da congregação, os irmãos chamam logo um outro pastor “para continuar a obra”, por que eles não sabem como fazê-la, e se sabem, acham que não são responsáveis por ela. Muitos até contratam e pagam um pastor para fazer a obra no lugar deles. Isto é totalmente inexistente no Novo Testamento, e revela o quanto estamos longe da Igreja apostólica.

Lembro de um fato quando eu era pastor de um grupo tradicional. Um irmão interrompeu minha pregação, dizendo que eu devia ir urgentemente atender um caso de possessão demoníaca. Entreguei a palavra para o irmão e fui atender o chamado.

Isto mostra que muitas vezes os membros dependem do seu líder para fazer a obra que eles mesmos deveriam fazer. Por exemplo, se é para pregar, chamam o pastor. Se for para expulsar demônios, chamam o pastor. Se for para ensinar, chamam o pastor. Tudo é o pastor; nada é a congregação.

Onde está o erro? Tanto do lado dos líderes como da congregação. Qual é o certo? É os irmãos nunca dependerem dos seus líderes para fazer a obra. Mas, por outro lado, os líderes devem ordenar os santos para fazer a obra.

Quando os apóstolos viram o Senhor Jesus ascendendo aos céus, não disseram: “E agora, que faremos? Nosso pastor e mestre foi embora, sumiu numa nuvem!”. Assim não o fizeram porque eles sabiam muito bem o que deviam fazer; aliás, o que aprenderam com Jesus e já praticavam.

Somente quando atingimos esta 2.ª seção de Efésios 4.12 é que poderemos alcançar sua 3.ª seção: “para a edificação do corpo de Cristo”.

A edificação do corpo de Cristo não será produzida pelos líderes, mas pelo serviço que os santos devem realizar.

A qualidade da edificação do corpo de Cristo está especificada em Efésios 4. Há um aspecto positivo e outro negativo. O aspecto positivo visa alcançarmos a maturidade em Cristo: “até que todos cheguemos... à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (versículo 13). O aspecto negativo visa deixarmos a eterna infância dos crentes: “para que não sejamos mais como meninos...” (versículo 14). Por um lado, devemos deixar de ser como meninos em Cristo; por outro lado, devemos buscar a maturidade. Mas isto só é possível quando os santos desempenham o seu serviço.

Onde está a tônica da Igreja em muitos lugares? No serviço dos santos, ou, podemos dizer, na sua edificação? Está na edificação. Por isso, acham que precisam fazer muitas coisas para que isto aconteça. Porém, ao conhecermos a palavra de Deus, como Efésios 4.12, notamos que a edificação da Igreja é diretamente proporcional ao desempenho do serviço dos santos. Se a nossa tônica é o serviço dos santos, naturalmente alcançaremos a edificação da Igreja.

Alguém comparou a Igreja como uma grande maternidade. A cada encontro da Igreja, o pastor prepara uma grande mamadeira e, agitando-a, atira alguns pingos de leite sobre a congregação que, empurrando-se, disputam um gole.

Conheci um irmão que já tinha trinta anos de fé. Queria saber das suas experiências com Cristo. Perguntei-lhe se já havia levado alguém a Cristo. Disse que não. Perguntei se tinha discípulos. Também disse não. Preocupado com sua vida espiritual, perguntei, ainda, se ele conhecia os seis fundamentos da fé, encontrados em Hebreus 6.1-3. Respondeu que nem sabia que estes fundamentos existiam. Então, por fim, indaguei-lhe o que tinha feito nestes trinta anos de fé?! Também não soube me responder.

Deste tipo de irmão temos muitos na Igreja, ou a sua maioria. São discípulos que não cresceram; são eternas crianças. Sabe por quê? Não é porque precisam de mais sermões, estudos bíblicos, oração, etc.; mas porque ainda não aprenderam a desempenhar o serviço dos santos. Sua vida cristã consiste mais em receber do que em compartilhar; mais em consumir do que em produzir. E quem assim vive, sabemos que não cresce à maturidade. Não culpo estes irmãos por estarem nesta situação, mas o que nos chama a atenção é que eles são um reflexo da liderança da Igreja que ainda não descobriu sua função básica de ordenar os santos para o desempenho do seu serviço para serem edificados.

Quando um discípulo começa a desempenhar o serviço dos santos, ele e a Igreja são edificados. Quando um irmão prega o Evangelho do Reino e faz discípulos, cresce. Do contrário, deixa de receber edificação. Por acaso não é verdade que aqueles irmãos que mais ganham pessoas para Cristo são os que mais crescem?

Um discipulador tinha um discípulo que era débil na fé, cheio de problemas, não ganhava ninguém para Cristo, não tinha discípulos. O discipulador ia sair de férias e pediu para um irmão cuidar dele, com receio que ele poderia até se perder no mundo, por ser tão débil. O outro irmão começou a cuidar dele. Resolveu incluí-lo em saídas de evangelização pessoal. Quando o discipulador chegou, ficou surpreso com seu discípulo, pois o ouviu dizer que estava empolgado em ganhar vidas para Cristo e fazer discípulos. E percebeu que aquele discípulo parecia outro irmão; agora animado, alegre, não mais enredado com seus problemas. Que milagre aconteceu! Aconteceu na sua ausência com o cuidado e o trabalho do outro discipulador! O que houve? Ora, quando alguém pára de ficar em torno de seus problemas e resolve fazer o serviço dos santos, começa a crescer, e assim é edificado. Desculpem-me a ilustração, mas deixemos de ser irmão tipo “sanguessuga”, que só diz: “Dá-Dá”, conforme Provérbios 30.15, para sermos um irmão tipo: “Dou-Dou”.

Um dia perguntei à igreja da minha casa, um grupo de 11 discípulos, quem tinha um testemunho sobre o momento da vida que mais cresceu no Senhor. Uma irmã disse que foi quando orou para ganhar vidas para Cristo, ganhou uma vida e passou a discipulá-la.

A menos que tenhamos cada membro do corpo de Cristo exercendo o seu serviço, por mais que os líderes façam e se esforcem, ainda assim não teremos a edificação da Igreja.

Para onde está voltada nossa estrutura ministerial? Para alguns que lideram ou para toda a Igreja? Como funcionará o ministério do corpo de Cristo, que é o serviço dos santos, se geralmente 90% da estrutura da Igreja está voltada para a realização de grandes reuniões e grandes pregações?

Alguém perguntaria: Mas você não está querendo anular estes ministérios de liderança da Igreja? Não, mas necessitamos colocar as coisas em seus devidos lugares. Precisamos baixar aquilo que foi exageradamente elevado, o púlpito, e elevar aquilo que foi durante as gerações esquecido, o ministério do corpo de Cristo. Por isso, devemos reavaliar nossos ministérios e operar as mudanças necessárias.

Texto extraído da obra "O Serviço dos Santos", de João Nelson Otto, editora Adhonai.

O MEU PASTOR CHATO

"Quando eu era mais jovem, tive um pastor muito chato.

Todo domingo, sem faltar, ele falava que a gente precisava ler a Bíblia.

Todo domingo ele escrevia uma meditação bíblica para cada dia da semana. Saía no boletim da igreja, mas eu nunca li.

Todo o ano ele preparava uma campanha para estimular a gente a ler a Bíblia. Tinha ano que dava certificados (imagine: cer-ti-fi-ca-dos) e brindes para quem terminasse.

No programa de rádio da igreja, que nunca assisti, tinha sempre uma pergunta bíblica. Quem respondesse concorria a três livros no final do programa. Sei disso porque ele comentava na abertura do culto e eu, às vezes, prestava atenção.

De vez em quando, no culto, ele dava oportunidade para perguntas sobre dificuldades surgidas na leitura da Bíblia. Prometia responder e as que não soubesse pesquisaria. No meio da semana, ele mesmo dirigia uma classe, junto com outro pastor, só para tirar dúvidas dos leitores da Bíblia.
De vez em quanto, com alegria estampada no rosto, ele falava de pessoas, antigas na fé, que nunca tinham lido a Bíblia toda, mas que conseguiram fazer isso e estavam muito felizes.
Eu sei que ele lia outros livros, mas só pregava da Bíblia. Ele pregava sobre temas da vida, mas sempre a partir da Bíblia. Ele parecia encher a boca para declarar, quase que todo domingo, que precisamos ouvir todo o conselho de Deus e este conselho está na Bíblia.
Uma vez ele planejou um congresso de adoração e Bíblia, em que todas as músicas cantadas seriam com letras transcritas das Escrituras. Não deu certo, mas achei interessante.
Ele vivia repetindo, cansativamente, que os mandamentos da Bíblia são para o nosso bem e não para o bem daquele que os formulou.

Meu pastor insistia que jamais devemos dizer "eu, porém", quando lemos na Bíblia "tu, porém"; com isto, ele queria insistir que devemos seguir o Deus da Bíblia e não os deuses deste mundo. Uma vez ele disse que muitas pessoas que vivem de dar conselhos para os outros não têm moral alguma; falam de casamento, mas já se casaram várias vezes; dão dicas sobre economia, mas andam endividados.
Acho que não vou esquecer desse pastor. Sua insistência me lembra que preciso ler a Bíblia.
Agora, me dá licença que ainda não li meus 12 capítulos desta semana. É que acabei gostando de ler a Bíblia".

Mas, antes de terminar, preciso dizer: "obrigado, meu pastor chato".

ISRAEL BELO DE AZEVEDO